top of page
Buscar

Batman e o Manacá da Serra ~ Entre Névoas e Avisos ~ Uma Despedida com Olhos Espirituais

Ensaio fotográfico no atelier para exposição na Grécia
Ensaio fotográfico no atelier para exposição na Grécia

O quadro do Billy, um gesto afetuoso de carinho, como abrir uma janela sutil entre mundos, como quem convida o amor a conduzir suavemente o caminho. Quando os vínculos entre almas são tão fortes, uma obra de arte do pet querido se torna ponte.

Nos dias que antecederam a partida do Batman, apelidado carinhosamente de "beringela", mestiço Pinscher, um dos meus companheiros de quatro patas, algo mudou na forma como eu via o mundo. A partir do dia 09 de julho de 2025, comecei a receber muitos sinais. O primeiro deles talvez tenha sido o próprio gesto silencioso do Batman, ao se deitar repentinamente na minha cama, que se tornou seu repouso sagrado até o fim, no dia 25 de julho.

No quintal, o pé de Manacá da Serra, que no dia anterior florescia exuberante e cheio de cor, amanheceu seco, sem brilho, pálido. Como se algo invisível tivesse tocado seu ciclo. Dois gestos simultâneos: um herói que cai, uma flor que silencia. Entre eles, uma dança sutil de simbolismos que revelam como até os menores eventos carregam mensagens profundas para quem sabe escutar.

Naquele momento, algo em mim soube: o ciclo estava se fechando.

A atenção de todos voltada ao Batman. Mas, numa noite, ao entrar na cozinha já escura, senti cheiro de formol no ar. O veterinário que sempre o acompanhou se impressionou com o resultado dos exames. Na volta para casa, ainda no carro, cuidando do Batman, ouvi na minha mente — três vezes: “ele não vai sair dessa.”

Desde então, ele esteve sob meus cuidados com delicadeza e entrega. Cada ida ao veterinário, cada gesto de afeto, cada silêncio carregado de significado, tudo foi vivido com a consciência de que estávamos nos despedindo.

A comunicação intuitiva estava presente. Sempre pensei que o Billy estava me avisando. Era seu grande amigo, por quem o Batman deixou de sorrir depois que ele faleceu. Acho que, por mais carinho e atenção recebidos, ninguém conseguiu suprir esse espaço vazio.

A espiritualidade, em sua sutileza, se revelou através da natureza e da intuição. No cuidado dos últimos momentos, houve também um gesto especial: Coloquei o quadro do Billy próximo ao Batman, como se fosse um farol de amor, uma referência familiar que o ajudasse a encontrar com quem ele tanto amava e sentia saudades. Era mais do que uma imagem, era uma presença, eu já sentia a saudades, agora de dois, Billy e Batman por antecipação.

Querendo o máximo de conforto para ele e expressar amor em silêncio, para que Batman não se preocupasse comigo, e pudesse descansar em paz. Toquei a música que ele mais gostava, "Royals, da Lorde". A melodia preenchia o ambiente com doçura e nostalgia, como se embalasse nossa despedida com delicadeza. Era meu gesto de entrega, minha forma de dizer: ‘Vai em paz, meu querido, está tudo bem por aqui, te amo para sempre’.

O céu, envolto por nuvens cinza-claro delicadas, passava agora a sensação de estarmos sendo abraçados pelo Billy. Curiosamente, eu, que nunca apreciei dias nublados, encontrava agora um consolo inesperado. O poodle branco peludo que foi tão importante para todos nós e partiu anos atrás. A paisagem nublada tornou-se confortante, como se estivéssemos entre os pelos de Billy. E o Batman que iria logo protegido por ele, longe da dor, próximo da paz.

O atelier parecia ter encolhido, como se os sentimentos tivessem ganhado corpo, preenchendo cada canto com sua presença silenciosa.

Eu enxergava agora através de uma névoa sutil que durou três dias. Como se os anjos estivessem resguardando meu coração. Como se o espaço e as bordas da realidade tivessem se retraído. Foi nesse espaço de percepção alterada que começaram a surgir os sinais. Os contrastes suaves do céu, com nuvens cinza-claro cobrindo o “certo”, passaram a ser, para mim, um lembrete de que o invisível também fala.

Durante o luto, minha visão espiritual se expandiu. Retornei à clareza três noites depois, como quem acorda e vê o dia. Comecei a enxergar com profundidade, contraste e espaço novamente. Essa mudança foi mais do que física: foi simbólica.

Hoje entendo que Deus, através da natureza e da sensibilidade que carrego comigo, me preparou para acolher esse momento com dignidade e amor.

E o mais bonito de tudo: Batman partiu naturalmente, na minha cama — lugar onde se sentia seguro e acolhido, cercado pelo carinho da família humana e dos pets que o amavam, envolto na paz do lar que sempre foi seu refúgio.

Foi uma despedida marcada pelo zelo, pelo amor silencioso e pela presença de quem sempre esteve ao seu lado. Eu também me preocupei profundamente em ter Robinho e Loira por perto — não apenas como testemunhas desse momento delicado, mas para que pudessem, à sua maneira, compreender que o amigo logo deixaria esse mundo. Era importante que se sentissem incluídos, envolvidos, acolhidos nesse adeus.


Sementes para quem souber escutar

Fica aqui meu relato, como quem deixa sementes numa terra fértil de emoções: Que as partidas sejam também portas, para o entendimento mais profundo. Que os sinais se revelem mesmo nas névoas suaves.

Billy
Billy

Que o cuidado seja resposta à intuição, o amor, o verbo principal.

Gratidão eterna ao Batman, ao Billy, e a todos que, em silêncio, me ajudaram a ver com os olhos da alma.

Fátima Münch

 
 
 

Comentários


bottom of page